Todos os anos, diversos vestibulares
pelo Brasil acrescentam em sua lista de livros obrigatórios a obra-prima de
Graciliano Ramos, Vidas Secas, que retrata a vida de retirantes nordestinos
tentando sobreviver a condição de fome e morte à qual estão submetidos e
que impera no sertão. Se você é do tipo que detesta "desgraça" vai
sofrer um bocado ao ler o romance já que, segundo especialistas, nunca as
dificuldades e o sofrimento dos retirantes nordestinos foi contada com tanta
precisão e realidade. ? bem verdade que, em determinados momentos, é possível
mergulhar no livro e viver os dramas dos protagonistas. Sofrimento à parte, a
obra tem um ponto muito interessante porque, pela primeira vez, relaciona a
seca e suas consequências para o povo muito mais à falta de interesse político
da nação do que apenas a um triste fenômeno da natureza, regra, até então,
utilizada pela grande maioria dos autores que tinham o sertão como pano de
fundo de suas histórias.Segundo o professor de Jornalismo Cultural da PUC-SP
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), também diretor do programa
Entrelinhas da TV Cultura e especialista na obra de Graciliano Ramos, Ivan
Marques, esta é a primeira dica que os vestibulandos devem levar em conta no
momento em que leem Vidas Secas. Embora outros autores como Raquel de Queiroz,
em seu livro o Quinze - que também retrata a seca do Nordeste - tenham se
preocupado em falar sobre a condição de vida no sertão, seus textos são muito
mais poéticos e menos críticos à política brasileira como responsável sobre a
fome e a miséria que se instala no local, do que o romance de Graciliano Ramos.
"O discurso de Graciliano está muito mais ligado à política, o de Raquel
não", diz. Este é um dos motivos pelo qual muitos vestibulares pedem os dois
livros na lista obrigatória. ? uma chance de mostrar aos estudantes como um
autor e outro trabalham as relações sobre uma mesma temática.Dica
importante: o livro Vidas Secas foi escrito na década de 30, quando a
temática sobre o sertão começava a desabrochar na literatura de Raquel de
Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto e outros
escritores de peso. Nesta época, a literatura brasileira se esparramava pelas
diversas regiões do país e muitos escritores, de norte a sul do Brasil, estavam
engajados com nossos problemas sociais. Com isso, ela deixa de ter apenas um
caráter reflexivo, para assumir uma postura crítica em relação à sociedade.
Vidas Secas é um marco deste conjunto.Vale destacar a propriedade com a
qual escritores como Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e João
Cabral de Melo Neto descrevem as pessoas e os costumes do sertão nordestino.
São pessoas que viveram essa realidade e, como tal, sabem o que é particular
deste ambiente. "Daí a literatura regional do Nordeste ter ganho destaque
ao longo dos anos", complementa o professor de Comunicação Social da
UNIFOR (Universidade de Fortaleza), Ruy Vasconcelos.Outro ponto interessante a
ser observado em Vidas Secas é a concepção dura, simples, quase ríspida, que o
autor dá às personagens. Para entender melhor esta característica é preciso
conhecer um pouco mais sobre a figura do escritor. Afinal, quem era Graciliano
Ramos? De um pessimismo inigualável e uma rigidez intrínseca, quase que até sua
aura, Graciliano não tinha poesia, não fazia poesia. "Sua literatura
representa sua essência como ser humano. Daí, o fato dos livros terem sempre um
viés pessimista", explica Marques. O professor ressalta, porém, que de
todas as obras do autor, incluindo São Bernardo e Angústia, publicadas
anteriormente, o romance Vidas Secas é o que está mais isento de tal
característica. Nele, Graciliano explora questões como solidariedade e afeto
como saídas para amenizar a dor e o sofrimento das personagens. "São
inserções de sentimentos que não se vê em suas obras anteriores", explica
o professor.Vasconcelos afirma que essa linguagem minimalista utilizada por
Graciliano também é predominante em sua descrição do ambiente e de suas
personagens. "As vestes, as falas e o espaço onde estão inseridos são
descritos com quase nenhum detalhe que prenda a atenção do leitor. O mais
interessante é reservado para seus pensamentos, sempre evocados pela narrativa
de Graciliano."Justamente por ser narrado em terceira pessoa, o livro
permite que o narrador se interiorize nos pensamentos dos personagens para
revelá-los ao leitor. Assim, o texto fica estruturado no discurso indireto
livre (predominante), em que o narrador se apropria do discurso das personagens
para expô-los, evidenciando seus medos, desejos, raivas e frustrações através
de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em
palavras os anseios e pensamentos das personagens. Essa concepção narrativa
fica mais evidente ao passo que as personagens do livro quase não têm fala.
Graciliano trabalha o não falar de tais personagens como o máximo do
subjulgamento de um ser humano, ou seja, a privação da fala. "Essa é outra
característica que aponta uma crítica social de sua obra, a tamanha opressão
sobre os retirantes que lhes tira, inclusive, o direito de falar,"
explica.Vale lembrar que Graciliano Ramos foi perseguido e preso durante o
Estado Novo. Quando saiu da prisão, não tinha mais nada. Ele vivia em casas de
pensão no Rio de Janeiro e escrevia contos para os jornais para ganhar
dinheiro. Um destes contos foi o da cachorra Baleia. Com o passar do tempo, ele
passou a escrever outros contos que, integrados ao de Baleia, deram origem ao livro
Vidas Secas. "? importante destacar que o autor faz essa junção tão bem
que, embora você perceba que seus capítulos têm final bem demarcados, ao mesmo
tempo, eles estão conectados como se tivessem sido escritos de uma única vez.
Graciliano faz isso com mestria", ressalta Marques.Do livro ao filme Sinhá
Vitória, Fabiano, o menino mais velho e o menino mais novo são exemplos de
figuras humanas representadas na obra literária de Graciliano Ramos que têm
quase a mesma ou tampouca vida quanto a cachorra Baleia - dotada de uma
solidariedade desinteressada que não se vê nas personagens humanas. Essas
características são tão marcantes no livro que não se esperava que a versão cinematográfica
pudesse exprimi-las com precisão. Nas mãos do cineasta Nélson Pereira dos
Santos, porém, a história da família de retirantes nordestinos foi reproduzida
com tanta maestria que, até hoje, é considerada por especialistas como uma das
melhores adaptações de roteiro literário para o cinema brasileiro.O filme,
rodado em 1963, chegou aos cinemas junto com a obra-prima Deus e o Diabo na
Terra do Sol de Glauber Rocha. Logo de início, trazia uma mensagem para o
público de que não se tratava de uma ficção, mas de uma realidade que, todos os
anos, era vivida por milhares de nordestinos em busca de uma vida melhor fora
do sertão. Por isso, junto à obra de Glauber Rocha, também conquistou espaço
como filme de crítica social na época do Cinema Novo.O professor Vasconcelos
lembra a cena em que os retirantes nordestinos estão chegando uma casa de
fazenda como uma das mais interessantes do filme. O registro demorado dos
retirantes até sua chegada na fazenda, para ele, representa um marco diferente
do que estamos acostumados a ver na tela, pois transmite muito bem o ritmo
lento do livro Vidas Secas. "Essa chegada não é representada por um corte
frenético tão peculiar à TV e ao cinema. O cineasta acertou ao captar e
transferir para a versão cinematográfica a lentidão peculiar a esta obra de
Graciliano", diz.Na opinião de Marques, o filme é, sim, um complemento à
obra e pode ajudar os estudantes a ter uma visão mais ampla sobre o romance de
Graciliano Ramos, além de dar a chance de conhecer um trabalho cinematográfico
de muita qualidade. "Nélson Pereira dos Santos merece todos os destaques
pelo trabalho que fez. Existem milhares de adaptações que pouco ou nada têm a
dizer sobre as obras literárias em que foram baseadas. Vidas Secas é,
realmente, uma exceção", diz.Entre as cenas do filme, o professor destaca
também a que retrata a morte da cachorra Baleia. Quem leu, sabe que o desejo do
animal era ver o sertão cheio de preás. Para ilustrar esse pensamento do livro,
o cineasta utiliza uma câmera subjetiva focalizando Baleia em agonia e
intercalando planos em que preás começam a se espalhar sobre a paisagem seca.
"? uma transição de um recurso literário para o cinema. Algo realmente
fantástico", afirma. Vale destacar que o filme "Vidas secas"
obteve os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad
de Valladolid" (Espanha).Encontrar o filme Vidas Secas não é das tarefas
mais fáceis. Fora de catálogo há algum tempo, ele já foi lançado em DVD. Suas
cópias, porém, estão mais disponíveis à venda do que para locação. A vídeo-locadora
2001 - de São Paulo, por exemplo, possui o DVD em seu catálogo eletrônico, mas
não têm unidades disponíveis nas lojas. O jeito é ligar e reservar ou sair em
busca da obra-prima de Nelson Pereira dos Santos no circuito alternativo de
cinema.
Graciliano
Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de
Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos
de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de
Viçosa, Palmeira dos Öndios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das
surras que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a
ideia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro
autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um
homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda;
uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de
cólera se inflamavam com um brilho de loucura".
Ainda
pequeno, em Buíque, o escritor tem contato com as primeiras letras. Em 1904,
retorna ao Estado de Alagoas, indo morar em Viçosa. Lá, Graciliano cria um
jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente,
redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu
mentor intelectual, Mário Venâncio. Em 1909, passa a colaborar com o
"Jornal de Alagoas", de Maceió.
O
ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Catés", que já
trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha
escrevendo desde 1925. No ano seguinte, publica "São Bernardo". Em
março de 1936, acusado de ter conspirado no levante comunista de novembro de
1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com
destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O
país estava sob a ditadura de Vargas e do coronel Filinto Müller. Quando
libertado, em 1937, Graciliano passou a trabalhar como copidesque em jornais do
Rio de Janeiro. Em 1945, ele filiou-se ao Partido Comunista. Em abril de 1952,
descobre um câncer no pulmão. No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na
Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vítima pelo câncer,
no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. ? publicado o livro "Memórias
do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o
capítulo final.
Catés -
romance
São Bernardo
- romance
Angústia -
romance
Vidas secas -
romance
Infância -
memórias
Dois dedos -
contos
Insônia -
contos
Memórias do
cárcere - memórias
Todos os anos, diversos vestibulares
pelo Brasil acrescentam em sua lista de livros obrigatórios a obra-prima de
Graciliano Ramos, Vidas Secas, que retrata a vida de retirantes nordestinos
tentando sobreviver a condição de fome e morte à qual estão submetidos e
que impera no sertão. Se você é do tipo que detesta "desgraça" vai
sofrer um bocado ao ler o romance já que, segundo especialistas, nunca as
dificuldades e o sofrimento dos retirantes nordestinos foi contada com tanta
precisão e realidade. ? bem verdade que, em determinados momentos, é possível
mergulhar no livro e viver os dramas dos protagonistas. Sofrimento à parte, a
obra tem um ponto muito interessante porque, pela primeira vez, relaciona a
seca e suas consequências para o povo muito mais à falta de interesse político
da nação do que apenas a um triste fenômeno da natureza, regra, até então,
utilizada pela grande maioria dos autores que tinham o sertão como pano de
fundo de suas histórias.Segundo o professor de Jornalismo Cultural da PUC-SP
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), também diretor do programa
Entrelinhas da TV Cultura e especialista na obra de Graciliano Ramos, Ivan
Marques, esta é a primeira dica que os vestibulandos devem levar em conta no
momento em que leem Vidas Secas. Embora outros autores como Raquel de Queiroz,
em seu livro o Quinze - que também retrata a seca do Nordeste - tenham se
preocupado em falar sobre a condição de vida no sertão, seus textos são muito
mais poéticos e menos críticos à política brasileira como responsável sobre a
fome e a miséria que se instala no local, do que o romance de Graciliano Ramos.
"O discurso de Graciliano está muito mais ligado à política, o de Raquel
não", diz. Este é um dos motivos pelo qual muitos vestibulares pedem os dois
livros na lista obrigatória. ? uma chance de mostrar aos estudantes como um
autor e outro trabalham as relações sobre uma mesma temática.Dica
importante: o livro Vidas Secas foi escrito na década de 30, quando a
temática sobre o sertão começava a desabrochar na literatura de Raquel de
Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto e outros
escritores de peso. Nesta época, a literatura brasileira se esparramava pelas
diversas regiões do país e muitos escritores, de norte a sul do Brasil, estavam
engajados com nossos problemas sociais. Com isso, ela deixa de ter apenas um
caráter reflexivo, para assumir uma postura crítica em relação à sociedade.
Vidas Secas é um marco deste conjunto.Vale destacar a propriedade com a
qual escritores como Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e João
Cabral de Melo Neto descrevem as pessoas e os costumes do sertão nordestino.
São pessoas que viveram essa realidade e, como tal, sabem o que é particular
deste ambiente. "Daí a literatura regional do Nordeste ter ganho destaque
ao longo dos anos", complementa o professor de Comunicação Social da
UNIFOR (Universidade de Fortaleza), Ruy Vasconcelos.Outro ponto interessante a
ser observado em Vidas Secas é a concepção dura, simples, quase ríspida, que o
autor dá às personagens. Para entender melhor esta característica é preciso
conhecer um pouco mais sobre a figura do escritor. Afinal, quem era Graciliano
Ramos? De um pessimismo inigualável e uma rigidez intrínseca, quase que até sua
aura, Graciliano não tinha poesia, não fazia poesia. "Sua literatura
representa sua essência como ser humano. Daí, o fato dos livros terem sempre um
viés pessimista", explica Marques. O professor ressalta, porém, que de
todas as obras do autor, incluindo São Bernardo e Angústia, publicadas
anteriormente, o romance Vidas Secas é o que está mais isento de tal
característica. Nele, Graciliano explora questões como solidariedade e afeto
como saídas para amenizar a dor e o sofrimento das personagens. "São
inserções de sentimentos que não se vê em suas obras anteriores", explica
o professor.Vasconcelos afirma que essa linguagem minimalista utilizada por
Graciliano também é predominante em sua descrição do ambiente e de suas
personagens. "As vestes, as falas e o espaço onde estão inseridos são
descritos com quase nenhum detalhe que prenda a atenção do leitor. O mais
interessante é reservado para seus pensamentos, sempre evocados pela narrativa
de Graciliano."Justamente por ser narrado em terceira pessoa, o livro
permite que o narrador se interiorize nos pensamentos dos personagens para
revelá-los ao leitor. Assim, o texto fica estruturado no discurso indireto
livre (predominante), em que o narrador se apropria do discurso das personagens
para expô-los, evidenciando seus medos, desejos, raivas e frustrações através
de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em
palavras os anseios e pensamentos das personagens. Essa concepção narrativa
fica mais evidente ao passo que as personagens do livro quase não têm fala.
Graciliano trabalha o não falar de tais personagens como o máximo do
subjulgamento de um ser humano, ou seja, a privação da fala. "Essa é outra
característica que aponta uma crítica social de sua obra, a tamanha opressão
sobre os retirantes que lhes tira, inclusive, o direito de falar,"
explica.Vale lembrar que Graciliano Ramos foi perseguido e preso durante o
Estado Novo. Quando saiu da prisão, não tinha mais nada. Ele vivia em casas de
pensão no Rio de Janeiro e escrevia contos para os jornais para ganhar
dinheiro. Um destes contos foi o da cachorra Baleia. Com o passar do tempo, ele
passou a escrever outros contos que, integrados ao de Baleia, deram origem ao livro
Vidas Secas. "? importante destacar que o autor faz essa junção tão bem
que, embora você perceba que seus capítulos têm final bem demarcados, ao mesmo
tempo, eles estão conectados como se tivessem sido escritos de uma única vez.
Graciliano faz isso com mestria", ressalta Marques.Do livro ao filme Sinhá
Vitória, Fabiano, o menino mais velho e o menino mais novo são exemplos de
figuras humanas representadas na obra literária de Graciliano Ramos que têm
quase a mesma ou tampouca vida quanto a cachorra Baleia - dotada de uma
solidariedade desinteressada que não se vê nas personagens humanas. Essas
características são tão marcantes no livro que não se esperava que a versão cinematográfica
pudesse exprimi-las com precisão. Nas mãos do cineasta Nélson Pereira dos
Santos, porém, a história da família de retirantes nordestinos foi reproduzida
com tanta maestria que, até hoje, é considerada por especialistas como uma das
melhores adaptações de roteiro literário para o cinema brasileiro.O filme,
rodado em 1963, chegou aos cinemas junto com a obra-prima Deus e o Diabo na
Terra do Sol de Glauber Rocha. Logo de início, trazia uma mensagem para o
público de que não se tratava de uma ficção, mas de uma realidade que, todos os
anos, era vivida por milhares de nordestinos em busca de uma vida melhor fora
do sertão. Por isso, junto à obra de Glauber Rocha, também conquistou espaço
como filme de crítica social na época do Cinema Novo.O professor Vasconcelos
lembra a cena em que os retirantes nordestinos estão chegando uma casa de
fazenda como uma das mais interessantes do filme. O registro demorado dos
retirantes até sua chegada na fazenda, para ele, representa um marco diferente
do que estamos acostumados a ver na tela, pois transmite muito bem o ritmo
lento do livro Vidas Secas. "Essa chegada não é representada por um corte
frenético tão peculiar à TV e ao cinema. O cineasta acertou ao captar e
transferir para a versão cinematográfica a lentidão peculiar a esta obra de
Graciliano", diz.Na opinião de Marques, o filme é, sim, um complemento à
obra e pode ajudar os estudantes a ter uma visão mais ampla sobre o romance de
Graciliano Ramos, além de dar a chance de conhecer um trabalho cinematográfico
de muita qualidade. "Nélson Pereira dos Santos merece todos os destaques
pelo trabalho que fez. Existem milhares de adaptações que pouco ou nada têm a
dizer sobre as obras literárias em que foram baseadas. Vidas Secas é,
realmente, uma exceção", diz.Entre as cenas do filme, o professor destaca
também a que retrata a morte da cachorra Baleia. Quem leu, sabe que o desejo do
animal era ver o sertão cheio de preás. Para ilustrar esse pensamento do livro,
o cineasta utiliza uma câmera subjetiva focalizando Baleia em agonia e
intercalando planos em que preás começam a se espalhar sobre a paisagem seca.
"? uma transição de um recurso literário para o cinema. Algo realmente
fantástico", afirma. Vale destacar que o filme "Vidas secas"
obteve os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad
de Valladolid" (Espanha).Encontrar o filme Vidas Secas não é das tarefas
mais fáceis. Fora de catálogo há algum tempo, ele já foi lançado em DVD. Suas
cópias, porém, estão mais disponíveis à venda do que para locação. A vídeo-locadora
2001 - de São Paulo, por exemplo, possui o DVD em seu catálogo eletrônico, mas
não têm unidades disponíveis nas lojas. O jeito é ligar e reservar ou sair em
busca da obra-prima de Nelson Pereira dos Santos no circuito alternativo de
cinema.
Graciliano
Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de
Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos
de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de
Viçosa, Palmeira dos Öndios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das
surras que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a
ideia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro
autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um
homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda;
uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de
cólera se inflamavam com um brilho de loucura".
Ainda
pequeno, em Buíque, o escritor tem contato com as primeiras letras. Em 1904,
retorna ao Estado de Alagoas, indo morar em Viçosa. Lá, Graciliano cria um
jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente,
redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu
mentor intelectual, Mário Venâncio. Em 1909, passa a colaborar com o
"Jornal de Alagoas", de Maceió.
O
ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Catés", que já
trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha
escrevendo desde 1925. No ano seguinte, publica "São Bernardo". Em
março de 1936, acusado de ter conspirado no levante comunista de novembro de
1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com
destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O
país estava sob a ditadura de Vargas e do coronel Filinto Müller. Quando
libertado, em 1937, Graciliano passou a trabalhar como copidesque em jornais do
Rio de Janeiro. Em 1945, ele filiou-se ao Partido Comunista. Em abril de 1952,
descobre um câncer no pulmão. No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na
Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vítima pelo câncer,
no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. ? publicado o livro "Memórias
do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o
capítulo final.
Catés -
romance
São Bernardo
- romance
Angústia -
romance
Vidas secas -
romance
Infância -
memórias
Dois dedos -
contos
Insônia -
contos
Memórias do
cárcere - memórias